Ídolo às avessas
As
últimas aparições do ex-ciclista americano Lance Armstrong serviram para nos
sinalizar duas importantes coisas. Uma, foi de como se faz para ingressar no indigesto
rol da calçada da má-fama. A outra, foi para constatar que ele é um exemplo que
ninguém deve seguir. Além do mau uso do Esporte como alavanca promocional de
sua própria imagem, o pseudo-atleta desconsiderou, brutalmente, a meu ver, toda
uma gama de inocentes prejudicados. Foram sumariamente lesados organizadores,
competidores, a modalidade, a sociedade, e enfim o Esporte, esse último um dos
maiores patrimônios mundiais que a humanidade tem.
O
curioso era que, ao passo que ele despontava, de forma assustadora, nas provas
de ciclismo mais concorridas pelo mundo, mesmo assim, não era suficiente para
levantar nenhum tipo de suspeita. Afinal de contas, ele já havia se consagrado como
um fenômeno perante a opinião pública, todos o aclamavam, a ponto de não ser nem
mais possível a contestação de sua idoneidade. As mídias já haviam tratado de
elevá-lo ao patamar máximo de semideus, portanto, tendo sua reputação
irrefragável por natureza.
Outra
dúvida que não quer calar é com relação aos organizadores. Por que eles não
faziam o exame antidoping pelo menos
daquele pelotão melhor colocado? Mais um mistério a ser desvendado por esse
podre e sórdido mundo que se tornou a vida de Armstrong. Suas primeiras
revelações se despontam somente como a ponta do iceberg, pois há fortes indícios
de formação de um grande esquema envolvendo várias outras pessoas. Esse, definitivamente, é um exemplo
maior de um mito que virou mico. O ex-ciclista entrará para história como um
dos maiores trapaceiros de todos os tempos, digno de ser retratado em uma
produção cinematográfica no melhor estilo de “Prenda-me se for capaz”. O embuste
repercutiu tão negativamente, que uma biblioteca nos EUA se apressou em realocar
todos os livros de Lance para a seção de ficção. Nada mais justo, pois com
certeza esses livros eram provas maiores de um culto a personalidade, que na
realidade, nunca nem sequer existiu.
O
mais grave de Lance Armstrong foi ter tentado conspurcar essa imaculada
instituição que só faz o bem para a população mundial. O Esporte foi ultrajado
em sua essência. O estrago foi enorme, se prolatou no tempo, requerendo,
portanto um longo período para o resgate e recuperação moral da referida instituição.
Não tomou conhecimento de ninguém. Pensou só em si. Prejudicou milhares de
carreiras e pôs em descrédito diversas dessas competições. Caso todo esse
disparate estivesse ocorrido em foro político, só seria mais um caso, onde infelizmente,
tudo é possível. É por isso tudo que reforço a ideia. O Esporte deve ser
considerado uma nação aparte, longe de qualquer influência malévola que possam emergir
de corações corrompidos e de mentes execráveis de certos seres humanos.
No mais, devemos dar certo crédito
ao aludido rapaz. Afinal de contas, ele teve problemas graves de saúde e pelo o
que consta, Armstrong tem uma instituição que auxilia pessoas com o mesmo
problema. Deixemos que a justiça se encarregue de puni-lo, pedagogicamente, na
medida dos danos que ele causou a todos. Tudo o que ele plantou, retornará de
forma catastrófica. Não há como fugir, é a exata lei da ação e reação. Tudo
aqui se faz, tudo aqui se paga.
Passado
essa fase de cumprimento de pena, torço sinceramente, que ele aprenda com suas
falhas e se recupere. Quem sabe depois disso ele fique cônscio do tamanho da dimensão
de seu erro e comece a compensar todo o estrago feito. Ele poderia muito bem
pensar na possibilidade de ingressar em instituições que busquem resguardar a
boa prática das atividades esportistas, conscientizando novas gerações,
combatendo o uso dos anabolizantes no meio desportivo, etc. Tudo isso, na
esperança de que futuramente, não tenhamos esportistas verdadeiros competindo
com atletas-mutantes modificados em laboratórios.
Em: 23/01/2013
saulo barreto