SBPC para quem?
S. Barreto
Foi com essa simples pergunta acima,
logo no primeiro dia, que partimos para o corpo a corpo dando início a
panfletagem tentando conscientizar as pessoas sobre o lado obscuro desse
grandioso acontecimento. Tentamos alertá-las, que não será pela simples
realização desse evento que fará com que nossos problemas sociais serão
solucionados. A intenção principal era que elas
olhassem para o que estava realmente acontecendo, com outros olhos, com as
lentes da verdade, não se esquecendo todas as mazelas que o povo maranhense vem
sofrendo ao longo de exatos quatro séculos. Como exemplo mais recente, o
descaso que vem ocorrendo com os profissionais da educação pública hoje,
desencadeando uma greve histórica parando a maioria das universidades federais
pelo país afora. . Seguindo
o cronograma das atividades, nos concentramos na frente do faraônico pórtico da
UFMA. Obra essa que, vejam só, teve custo inicial de uma bagatela de nada menos
que R$ 409.051,78. Com essa dinheirama daria para construir e com sobra, a tão
imprescindível Casa de Estudantes da nossa esquelética e sanguessugada UEMA. É
em meio a todo esse caos, que o levante começa. Faixas e bandeiras são
desfraldadas, apitos são distribuídos e a panfletagem segue na Avenida do Bacanga.
Eu e mais outro companheiro, um estudante de Goiânia, infatigavelmente, ficamos
no semáforo empunhando a faixa: NEGOCIA DILMA! Já ao anoitecer, se aproximava a hora de
agir, quando decidimos então partir para o ato, marchando rumo a abertura
oficial. Levamos a nossa voz até o grande público que assistia atonitamente
todo o circo orquestrado por essa burguesia conservadora. No meio do caminho,
não me contive e pequei o microfone das mãos do camarada Nelson da ANEL e
comecei a denunciar as infinitas mazelas sofridas na UEMA, dentre elas o
empreguismo descarado, o desprezo as reivindicações estudantis e a malservação da
coisa pública. . Quando invadimos o Centro Cultural onde
havia a preparação para a abertura, foi memorável. Vai ser difícil esquecer
esse momento. Apitávamos e bradávamos gritos de ordem, conclamando a toda
multidão (participantes, sociedade civil, autoridades e imprensa) solidariedade
a nossa causa. Foi quando então, depois do blefe infrutífero da presidente do
evento, a Srª. Helena Nader, exigimos que alguém da manifestação falasse. Foi
quando o professor grevista Vilemar furtivamente subiu ao púlpito e deu bem o
recado. Falou do pouco caso do Governo Federal em não negociar, do descaso do
governo estadual ao longo das décadas, das lutas pelo qual vem passando as
minorias maranhenses e por último da não concordância da
tentativa de mercantilização da ciência e dos
saberes tradicionais. . . . Dezessete
anos depois a primeira reunião SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência) ocorreu em São Luís, esse ano, em face da comemoração do quarto
centenário, a 64ª reunião vem com a sugestiva temática: “Ciência, Cultura e
Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza.” Ora, meus caros e minhas caras
só esse tema daria muito o falar, sem contar que ele soa mais como uma afronta,
um deboche do qual não podemos deixar de refutar. . Quantos
de nós sabemos como são tratados os povos que tentam preservar essas culturas
tracionais. Se levarmos em consideração os quilombolas, índios, quebradeiras de
coco, pequenos agricultores, extrativistas e pescadores, veremos que nada vem
sendo feito em prol desses grupos. Muito pelo contrário, a cada dia, na medida
em que ocorre o “crescimento” econômico, muitos desses povos estão tendo seus
direitos constitucionais, suas dignidades e suas próprias vidas aviltadas pelas
garras desmedida, ambiciosas e gananciosas desse pseudo-progresso nefasto e
predatório. . Quem de nós ousa não estar ciente com a
situação dos poucos quilombolas que restaram, que até hoje travam uma luta penosa
e antiga para não serem expulsos de suas terras com o avanço da Base de
Alcântara. Sem contar dos avanços dos grandes grileiros latifundiários sobre
suas terras nos mais diversos rincões do País, ocasionando conflitos de terras
dos mais violentos. Eles intimidam, ameaçam, invadem e tentar tomar na base da
força as terras dessas comunidades tradicionais, sejam índios, sejam
quilombolas. Etnias
essas que sempre estiveram lá e que herdaram todas essas terras e saberes, ao
longo dos séculos de seus saudosos antepassados, preservando-os tal como são. Eles
só querem ficar em paz onde sempre viveram em suas terras de direito. Há uma
guerra civil, uma limpeza étnica e cultural. Crimes contra a humanidade são
cometidos a olhos vistos dignos de serem julgados no Tribunal Penal
Internacional. Corpos de inocentes tombam diariamente, sangue esse que escorre
junto com as lágrimas dos entes que ficaram. O massacre é sistemático e
impiedoso. . E os
índios, além do problema do alcoolismo e da fome, ainda estão sendo trucidados
da pior forma, fazendo inveja até mesmo os mais cruéis colonizadores. Mulheres indígenas
sendo covardemente assassinadas. A barbárie é tanta, que estão atacando até o
futuro desse povo, índios pequenos sendo queimados vivos por jagunços de
fazendeiros inescrupulosos. . Ou seja, como esses cidadãos brasileiros vão preservar seus saberes, se
são colocados a margem, ante esse constante clima de hostilidade e de miséria
permanente? Se nas mesas de debates do referido encontro, os doutores e
mercantilistas da ciência, não aceitam a participação das pessoas das
comunidades? Para não dizer que estou exagerando nessa mesma semana estava
havendo o conflito na Vila de Vinhais Velho e pessoas eram agredidas por
policiais truculentos no caso da Via Expressa. Além das famílias inteiras de
sem-tetos sendo expulsa de forma truculenta lá no Bairro Bequimão, lembrando o
emblemático caso de Pinheirinhos. Onde anda os Direitos Humanos? . Findo
o evento segue a luta e até o fechamento desse texto nada tinha avançado com
relação a negociação da histórica GREVE na educação. Consequências do famigerado
REUNI, tão combatido por uma massa de estudantes conscientes de que ele levaria
as universidades ao patamar deplorável das escolas públicas. Seguem os
professores sem dá aulas e os estudantes sem tê-las, atrasando ainda mais o
real avanço desse país. Só nos resta gritar e ir pras ruas. Respeitem nossa
educação, senhores governantes desse País! Não ao PNE! 10% do PIB para educação
e parem de hipocrisia, NEGOCIA DILMA!
Negro Cosme Vive, Luta e Vence!!!
Ilha de
Upaon-açu, 05/08/2012
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