A ÁFRICA JÁ FOI AQUI
S. Barreto
sauloblf@gmail.com
Desumanidade. Massacre. Chacina. Genocídio. Carnificina. Extermínio
de inocentes. Limpeza étnica e social. Covardia. Monstruosidade. Moribundos.
Criminosos. Hitleristas. Filisteus. Servidores de satanás. Essas são algumas,
poderiam ser mais, palavras-chaves para atestar mais uma forte evidência de que
a humanidade não só é burra, como também é a principal responsável pela sua
autodestruição. Agredir só a natureza não mais lhe basta. É preciso também
atingir as pessoas.
Ontem nos noticiários assisti, com
muita consternação, ao vídeo que mostrava a polícia sula africana abrindo fogo
contra um grupo de mineiros que exerciam seus direitos de fazer greve por
melhores condições de trabalho. Nessa investida foram assassinados 34 (trinta e
quatro) trabalhadores, fora outros, que vem sendo exterminados pontualmente desde
o início da reivindicação. A imprensa trata o assunto como sendo o conflito
mais horrendo ocorrido desde fim do Apartheid em 1994. Fim do Apartheid? Seria
cômico se não se tratasse de um assunto tão sério. Esse episódio mostra que
essa segregação encontra-se mais real do que nunca e se duvidar, até pior. Assim
com a independência do Brasil, o Apartheid é meramente simbólico. Alguns ainda
têm a audácia de dizer que nada mais lhes impressionam nesse mundo. Como não?
Como não se revoltar, diante de uma aberração dessas.
Antes mesmo de terminar a matéria, logo
minha memória e creio que de muitos outros, tratou de logo em associar o
ocorrido com o massacre ocorrido na cidade de Eldorado dos Carajás no sul do estado
do Pará no dia 17 de abril de 1996. O mundo inteiro ficou chocado. De igual
forma, não faziam nada além do que a constituição não permitisse, protestavam, porém
foram igualmente aos mineiros, 19 (dezenove) sem-terra sumariamente dilacerados.
Desses, pelo menos 10 (dez) lavradores foram
executados a queima roupa com armas de grosso calibre. Muitos tiros, segundo o
legista, não deixam dúvida da não chance de defesa das vítimas. A maioria dos
disparos tinha como alvo a cabeça, peito e alguns até pelas costas. Outros 7 (sete)
lavradores foram mortos por instrumentos cortantes, como foices e facões, provavelmente
num consórcio maquiavélico entre o Estado (polícia) e os fazendeiros
(jagunços). O book fotográfico pós matança rodaram o mundo. Mostravam aos
cidadãos do planeta que a partir daquele dia, não convinha mais a Deus ser
brasileiro. Corpos crivados de chumbos jogados numa carroceria de um caminhão.
Corpos enfileirados dentro daqueles bandejões afogados em sangue e adornado por
parentes que não entendiam tamanha crueldade. A partir dali experimentavam uma
dor ainda maior, do que não possuir terras e passar fome, perder as pessoas que
eles mais amavam. Covas rasas e coletivas sendo rapidamente sendo abertas
cuidavam em enterrar o corpo material, nunca os sonhos. Só nessa leva, na
maioria de nordestinos, só de piauienses e maranhenses foram 11 (onze),
configurado aí, o genocídio social. vide fotos
A semelhança dos dois vídeos, apesar da
época e de países “diferentes” é notória. O modus
operandi da chacina, a covardia do aparelho repressor do Estado, a
vulnerabilidade e o descaso aos gritos de socorro das massas trabalhadoras são
comum em ambos os casos. Alguns grupos tentando chamar atenção da sociedade
empunhando suas ferramentas de trabalho para mostrar que estão ali lutando por
uma causa justa. A lógica maquiavélica do Estado é simples. Primeiro eles são incentivados
a perderem o controle face a proposital inércia das autoridades em negociar,
para depois serem trucidadas.
Eles estão só pleiteando direitos e a
medida que não aparece ninguém do outro lado para negociar, e natural que eles
fiquem mais agitados. Ante isso, a inteligência policialesca do Estado sabe
disso e resolve diabolicamente mais uma vez por em prática a pedagogia do medo:
“Não vai ninguém lá negociar. Atender o
que eles querem. Quem eles pensam que são? General instrua sua tropa armada. Disperse
a multidão. Qualquer um deles que se atrever a nos enfrentar, abra fogo.
Metam-lhe bala. Não importa se são homens, mulheres, idosos ou crianças. Trucidem
todos até a ultima bala. Vai servir como lição para os outros. Sem dó, nem
piedade. Isto é uma ordem.”
Enfim, eram só mais um grupo do planeta
de trabalhadores, pobres, lutando por direitos legítimos. Algo que nos soaria
nada mais que comum, mas que pelo seu desfecho calamitoso acabou entrando para
o volumoso livro negro da História mundial. Isso é uma prova clara de como é
luta dos fortes (Estado) contra os fracos (povo). Quando a política do pão e
circo não se faz suficiente, vem a mão de ferro do Estado e tenta esmagar a
cabeça e o ímpeto do cidadão em buscar melhores condições de vida.
Além de não sermos atendidos em nossos
direitos de exercer serviços básicos, quando se dispomos a reivindicar ainda
somos aniquilados, para que não haja contrariedade, uma semente de mudança, de revolução.
Isso é democracia? Não isso é a mesma política fascista que ainda impera, só
que de outra forma. Rasguem já as constituições das nações, os tratados e
cancelem as convenções da ONU se ninguém for punido. Estamos diante de crimes
contra a humanidade infinitamente qualificado. É hora de lutar mais ainda.
Vamos confeccionar a Carta Universal da Paz dos Povos. Ressuscitem Marx,
Gandhi, Zumbi dos Palmares, Madre Tereza, para elaborá-las, todo eles sob a
égide do que prega o mestre maior de todos, Jesus Cristo. Não devem o proletariado
se intimidar com esses atos de vandalismo e truculências governamentais. O Estado
dá sinais de descontrole e se mostra impotente com essas atitudes. O povo que
sofre sempre foi maior. Os mineiros, lavradores rurais, outros que morreram
foram mais que mártires. Foram anjos corajosos, que tiveram a humanidade de
sobrepujar suas próprias vidas em prol do bem da coletividade em geral. Quem
são as pessoas, de hoje que se sujeitam a isso?
Para finalizar segue a lista dos 19
(dezenove) chacinados, hoje esquecidos:
† Oziel Alves Pereira, goiano, 17 anos
† Joaquim Pereira Veras, piauiense, 32 anos
† Abílio Alves Rabelo, maranhense, 57 anos
† José Alves da Silva, goiano, 65 anos
† Altamiro Ricardo da Silva, goiano, 42 anos
† José Ribamar Alves de Souza, maranhense, 22
anos
† Amâncio Rodrigues dos Santos, maranhense, 42
anos
† Leonardo Batista de Almeida, maranhense, 46
anos
† Antônio (Irmão)
† Lourival da Costa Santana, maranhense, 25
anos
† Antônio Alves da Cruz, piauiense, 59 anos
† Manoel Gomes de Souza, piauiense, 49 anos
† Antônio Costa Dias, maranhense, 27 anos
† Raimundo Lopes Pereira, maranhense, 20 anos
† Graciano Olímpio de Souza (Badé), paraense,
46 anos
† Róbson Vitor Sobrinho, pernambucano,
25 anos
† João Carneiro da Silva
† Valdecir Pereira da Silva
† João Rodrigues Araújo, piauiense
P.S.: Já foi completada a maioridade
(18 anos) do Massacre e a Justiça elitista e lenta, sente “dificuldade” em
punir os malfeitores, principalmente o maior deles, o Estado.B
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