quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O P I N I Ã O



Segunda pele
Por S. Barreto

Quando efetivamente a humanidade convencionou que todos teriam que andar de roupas? Dificilmente alguém terá uma resposta exata, pronta ou cabal. Tudo dependeu de um longo e moroso processo histórico. O fato é que hoje andar coberto por um monte de vestes faz parte da vida de todos, que compõe a sociedade, seja ela em qualquer lugar do mundo, com raras exceções. As roupas nos acompanham desde que nascemos, seja com o primeiro gorrinho de crochê na cabeça, até a indesejável mortalha quando partimos. A endoderme, derme e epiderme já não mais nos basta.  
 
Biblicamente, depois que Adão e Eva cometeram o maior dos pecados da humanidade, desobedecendo a Deus, ao comerem da fruta da árvore proibida, tudo mudou, alterando todo o curso da história de seus descendentes aqui na terra. Depois da fatídica mordida da fruta, a Bíblia assevera: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conhecerem que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” (Gênesis 3:7). Assim, Deus percebe o erro perguntando a Adão: “Quem te mostrou que estavas nu?” (Gn 3:11). Nisso, foi quebrado o relacionamento deles com Deus, tornando o pecado dali pra frente uma realidade incômoda, para quem até então, levava uma vida perfeita no paraíso, sem malícia e preocupações.     
          
Depois disso, outra ideia que se tem é com relação de que no mundo existem regiões habitadas com variações climáticas muito intensas e extremas, além de outras próximas aos pólos muito frias. Então para o homem pré-histórico ou um esquimó da Groelândia andarem mais protegidos, eles tiveram que de alguma forma, criar um mecanismo de defesa, com intuito principal de não deixar dissipar o calor natural de seu corpo, além também de criar o fogo para amenizar essa particularidade. Diferentemente dos povos que vivem abaixo da linha do equador ou de um índio nascido na Amazônia ou na Mata Atlântica Sul-americana que por ter clima tropical, não haveria motivos para se adornar tais vestes. O processo de se andar vestido foi se dando de forma gradual e isso foi se tornando cada vez mais presente e aceitável na sociedade, existindo dessa forma um contingente colossal a ser vestido. O algodão e o bicho da seda se tornaram então, culturas valorizadas e elementos importantes na economia mundial. 

Hoje na contemporaneidade, além de suprir a necessidade basilar que é de encobrir-se, a vestimenta acabou por agregar as mais diversas simbologias e representações, principalmente no âmbito profissional. O Padre tem sua batina, o médico seu jaleco, o juiz sua toga, o mestre-cuca seu avental, o advogado seu blazer, o militar sua farda, o esportista seu uniforme, o mecânico seu macacão, o palhaço sua fantasia, o vaqueiro seu gibão de couro, etc. E aí nessa observação, é preciso tomar muito cuidado. Todos sabem, mas muitos acabam esquecendo. Não devemos julgar os outros pelas aparências até porque elas enganam, e enganam mesmo.      
  
É preciso saber discernir que a real função das roupas não é sectarizar os homens. Essa é só mais uma funesta mania do homem em estar querendo se distinguir de tudo e de todos para se hegemonizar como melhor diante dos demais. Ele inventa tudo, nos mais diversos graus de qualidade, desde roupas até moradia, para tentar perpassar a ideia de que existem uns que podem mais que outros, criando classes, castas e facções. Existe também a falsa noção de pluralidade de que: “Ah! Somos livres, podemos ser como quisermos”, não se atentado que isso nos torna mais desiguais e intolerantes com relação a diferença dos outros.     

Uns enaltecem esse quesito em suas vidas e mais parecem a representação de um frustrado pavão postiço em busca de sua estonteante calda, gastam excessivamente em lojas de shoppings, valorizam demasiadamente tendências da moda, consomem grandes grifes importadas fomentando a indústria de luxo, supervalorizando a marca, uma tremenda bobagem. O dono de um dos mais cobiçados empregos do mundo, o colunista social Amaury Jr. foi longe dizendo que: “Você só é percebido numa festa, somente se estiver no mínimo, bem vestido”. Não vou entrar no mérito dessa percepção, o mundo dele é totalmente diferente do meu.      

            Carlos Drummond de Andrade em seu famoso poema “Eu Etiqueta” já sinalizava a respeito dessa alienação, desse consumismo desenfreado e ilógico. Logo nos trechos exordiais percebemos bem a crítica do poeta. Ele fala: “Em minha calça está grudado um nome/Que não é meu de batismo ou de cartório/Um nome... estranho./Meu blusão traz lembrete de bebida/Que jamais pus na boca, nessa vida,/Em minha camiseta, a marca de cigarro/Que não fumo, até hoje não fumei. (...).”       
    
            Por outro lado, existem outros que se descuidam tanto a ponto de ser colocada em xeque até mesmo sua própria auto-estima. O mais sensato seria se vestir adequadamente, com roupas específicas para cada ocasião e bem asseadas. O cuidado consigo mesmo. A ideia chave é essa: “Eu sou importante, pelo menos pra mim mesmo”. Então tratemos da nossa saúde, da nossa higiene e, de certo modo, da nossa aparência, se de forma razoada. Meu alinhado e muito bem quisto avó materno Antônio Amâncio já dizia: “O pau se conhece é pela casca”.  
   
            Tempos atrás pude testemunhar uma polêmica envolvendo o imprevisível e brincalhão senador Eduardo Suplicy. Ele incentivado por humoristas causou polêmica quando se vestiu com uma cueca vermelha em pleno expediente no Senado Federal. Outro fato relacionado a esse mesmo político foi com relação a contenção de energia. O parlamentar propôs que fosse facultado o uso do terno no congresso, para que assim não tivessem os membros e servidores da casa, que utilizarem tanto os refrigeradores de ar. A moda não pegou. Outro ambiente de poder, as multinacionais até já abriram mão de que seus executivos usem obrigatoriamente lacônicas e formais gravatas.    

        Bem, essa é só mais uma opinião minha, pessoal. Posso estar sendo completamente reacionário e errado. Mas isso é o que acho hoje. Atualmente é comum os praticantes do naturismo lutarem para se livrar dessa amarra e chocam a sociedade ao buscar seus direitos de andar nu. Desta feita não mais somente o rei tem o direito de estar nu, mas também todos os seus súditos. Fica uma dica. No dia que lhe olharem dos pés a cabeça, não vos perturbes, mentalmente olhe pra dentro dela, e verás que essa pessoa cultiva algo fútil, supérfluo e sem nenhum valor humano. Para encerrar deixo a máxima: “Para que um homem mereça estar dentro de um terno, este, antes de tudo,  deverá se comportar como o mais terno dos homens.”

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